sexta-feira, 27 de junho de 2014

AUTISMO - TRECHOS DA 1ª PARTE DA ENTREVISTA -DR. Dráuzio Varella



Drauzio – Você poderia caracterizar o que se entende por autismo?

José Salomão Schwartzman – Na verdade, o que se chama de autismo nada mais é do que um tipo de comportamento que se caracteriza por três aspectos fundamentais. Primeiro: são crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa. Segundo: apresentam muita dificuldade de comunicação. Não é que não falem, não conseguem estabelecer um canal de comunicação eficiente. Terceiro: têm um padrão de comportamento muito restrito e repetitivo. Atualmente, qualquer indivíduo que apresente esses sintomas, em maior ou menor grau, é caracterizado como autista.
Como se vê, o conceito de autismo é muito amplo. Costumo compará-lo com o de deficiência mental, outro conjunto de sinais e sintomas presentes numa série imensa de pessoas.

Drauzio – Como vocês classificam o autismo?

José Salomão Schwartzman – Atualmente, costuma-se dizer que não há autismo. Existe um espectro de desordens autísticas, em que aparecem as mesmas dificuldades em graus de comprometimento variáveis. Há o indivíduo portador das características citadas em grande proporção e com deficiência mental grave; o grupo com o tipo de autismo descrito pelo médico austríaco Leo Kanner que tem comprometimento moderado e os indivíduos com a Síndrome de Asperger (Hans Asperger foi o médico que a descreveu), que são autistas com linguagem e intelecto preservados.

 Drauzio – Não dá para imaginar como uma pessoa é capaz de decorar o mapa cartográfico de uma cidade ou até mesmo uma lista telefônica inteira e não é capaz de interpretar conhecimentos mínimos como seu nome e o número de pessoas que moram em sua casa.
José Salomão Schwartzman  Eu acredito que a pessoa normal não enxerga com os olhos. Registra a imagem nos olhos, mas é seu cérebro que processa a informação. Nos autistas com síndrome de Asperger, a visão é fotográfica. Eles veem o que a retina capta. Existe um rapaz na Inglaterra, com cerca de trinta anos, que é considerado um dos maiores desenhistas contemporâneos. O neurologista inglês Oliver Sacks, autor de vários livros a respeito de autismo, levou-o a passear pelo mundo. Depois que visita uma cidade, ele é capaz de desenhar os edifícios respeitando as proporções e reproduzindo todos os detalhes com precisão. Esse moço faz uma coisa impossível para qualquer um de nós. Se você e eu descrevermos o mesmo objeto, certamente iremos descrever duas coisas diferentes, porque cada um de nós o enxergou a seu modo. Ele não. Reproduz o prédio exatamente como é.



Drauzio – Existem causas para o autismo?
José Salomão Schwartzman Nós nunca vamos conhecer a causa do autismo, porque a cada momento estamos descobrindo novas possibilidades. Eu poderia elencar 20, 30, 40 condições diferentes que podem cursar com autismo. A síndrome de Down, a síndrome do X-Frágil e uma série de outras doenças podem cursar o autismo. Da mesma forma, a síndrome fetal alcoólica provocada pela ingestão de álcool durante a gravidez é uma das causas frequentes de deficiência mental e autismo.

DIAGNÓSTICO

Drauzio – Crianças autistas nascem, choram, alimentam-se normalmente. Em que fase da vida aparecem as primeiras manifestações da doença?

 José Salomão Schwartzman Depende muito da gravidade do comprometimento. Vamos pegar o exemplo do autista clássico. Às vezes, a mãe conta que, desde que saiu da maternidade, esse filho é diferente dos irmãos. Não olha para ela, não quer pegar o peito, não se aninha no colo. No entanto, frequentemente, por não conhecer a doença, ela acha que esse é o jeito, é o temperamento daquela criança.
Existem filmes provando que uma criança normal com cinco horas de vida já é capaz de imitar uma expressão fisionômica. Se estiver bem alimentada e num ambiente tranquilo e mostrarmos a língua, ela nos mostrará a língua também. A criança autista nunca faria isso. Perceber essa diferença, porém, depende muito dos olhos de quem está observando. Hoje, se fala muito sobre diagnóstico precoce de autismo. Ami Klin, psiquiatra e neurocientista brasileiro que estuda muito o problema e dirige o centro de pesquisa sobre autismo da Universidade de Yale, defende o diagnóstico em bebês. É obvio que é impossível fechar o diagnóstico de autismo numa criança de seis, oito meses. Não se fecha, mas levanta-se a suspeita, o que permite adotar uma conduta terapêutica até certo ponto corretiva.






   FONTE:http://drauziovarella.com.br/crianca-2/autismo-primeira-parte/

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Caminhada de conscientização sobre o autismo reuniu bom público em São Roque, São Paulo

  Com um bom público presente, ocorreu na manhã de domingo, dia 27, em São Roque, a primeira caminhada de conscientização sobre o autismo, organizado pelo grupo de apoio aos pais dos autistas de São Roque e região, com o apoio da prefeitura.
 Essa caminhada teve como objetivo, conscientizar a sociedade sobre o autismo, eliminando o preconceito, mostrando a importância dos direitos desta parcela de cidadãos. “É um evento que com certeza fará parte do calendário oficial da cidade, levanta a importância do debate sobre os direitos desta parcela de cidadãos. Com certeza esta é a primeira edição de muitas que virão”, destaca o prefeito Daniel de Oliveira Costa que participou do evento.
 A caminhada que teve início na avenida Bandeirantes seguiu pelas ruas centrais até terminar na praça da Matriz. Os participantes utilizaram roupas em tons de azul, cor que representa o autismo.  O evento vem em meio à celebração do Dia Mundial do Autismo (2 de Abril).

O cérebro do autista. Entenda como funciona !

Muito parecido a um computador, o cérebro conta com um emaranhado de fios para processar e transmitir as informações. Os cientistas descobriram que, em pessoas com autismo, esses fios estão com defeito, o que causa falha de comunicação entre as células do cérebro.
No cérebro, as células nervosas transmitem mensagens importantes que controlam as funções do corpo, desde o comportamento social até os movimentos. Estudos de imagens revelaram que as crianças autistas têm muitas fibras nervosas, mas elas não funcionam de maneira suficiente para facilitar a comunicação entre as várias partes do cérebro. Os cientistas acham que todo esse circuito elétrico pode afetar o tamanho do cérebro. Embora as crianças autistas nasçam com cérebros normais ou menores que o normal, elas passam por um período de rápido crescimento entre os 6 e 14 meses, por isso que, por volta dos quatro anos, o cérebro tende a ser grande para sua idade. Os defeitos genéticos nos fatores de crescimento do cérebro podem levar a esse desenvolvimento anormal do cérebro.
Os cientistas também descobriram irregularidades nas próprias estruturas do cérebro, como no corpo caloso, que facilita a comunicação entre os dois hemisférios do cérebro; na amígdala, que afeta o comportamento social e emocional; e no cerebelo, que está envolvido com as atividades motoras, o equilíbrio e a coordenação. Eles acreditam que essas anormalidades ocorrem durante o desenvolvimento pré-natal.

Cientistas descobriram que o corpo caloso, a amígdala e o cerebelo de uma criança com autismo são anormais.O cérebro de uma criança com autismo apresenta alterações no corpo caloso, amígdala e cerebelo 
Além disso, os cientistas perceberam desequilíbrios nos neurotransmissores, substâncias químicas que ajudam as células nervosas a se comunicarem. Dois dos neurotransmissores que parecem ser afetados são a serotonina, que afeta emoção e comportamento, e o glutamato, que tem um papel na atividade dos neurônios. Juntas, essas alterações do cérebro podem ser responsáveis pelos comportamentos do autista.
Os cientistas continuam procurando pistas sobre as origens do autismo. Ao estudarem os fatores ambientais e genéticos que podem causar a doença, eles esperam desenvolver testes para identificar o autismo mais cedo, além de novos métodos de tratamento.
Vários estudos de pesquisa estão focados na ligação entre os genes e o autismo. O maior deles é o Projeto Genoma do Autismo (Autism Genome Project) da NAAR (National Alliance for Autism Research - Aliança Nacional para Pesquisa sobre Autismo). Esse esforço colaborativo, realizado em aproximadamente 50 instituições de pesquisa, em 19 países, está examinando os 30 mil genes que formam o genoma humano em busca dos genes que desencadeiam o autismo.
Fonte:http://saude.hsw.uol.com.br/autismo2.htm
Autor: 
Stephanie Watson

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Entenda (e experimente) como funciona a mente de um autista


Imagens: Reprodução do site carlyscafe.com
Enquanto sua irmã gêmea se desenvolvia normalmente, o progresso da canadense Carly Fleischmann era lento. Logo foi descoberta a razão: aos dois anos de idade, ela foi diagnosticada com autismo severo. Hoje, Carly é uma adolescente que não consegue falar – mas encontrou outro meio de se comunicar. Aos 11 anos, ela foi até o computador, agitada, e fez algo que deixou toda a sua família perplexa: digitou as palavras DOR e AJUDA e saiu correndo para vomitar no banheiro.
Supostamente, Carly nunca tinha aprendido a escrever. Mas aquilo mostrou que acontecia muito mais em sua mente do que qualquer um poderia imaginar. E foi assim que começou uma nova etapa em sua vida: ela foi incentivada a se comunicar mais desta forma e a criar contas em redes sociais, como o Twitter e o Facebook. Também ajudou o pai a escrever um livro sobre a sua condição e deu as informações para a criação de um site que simula a sua experiência diária com toda a descarga sensorial que recebe em situações cotidianas, como ir a um café. “O autismo me trancou em um corpo que eu não posso controlar”, diz ela no site.
Depois que sua história foi para a mídia, Carly começou a receber muitos e-mails de pessoas perguntando sobre o autismo e criou um canal para respondê-las. “As pessoas têm muitas de suas informações vindas dos chamados especialistas, mas eu acho que esses especialistas não conseguem dar uma explicação a algumas questões”, escreveu.
Veja a resposta que ela deu em seu site e entenda melhor o comportamento dos autistas:
Pergunta: Meu filho de seis anos ​​fica triste e chora com frequência, e eu não consigo entender o porquê. Você tem alguma sugestão de como eu posso descobrir o que está errado?
Carly: Pode ser muitas coisas. Será que ele está tomando algum medicamento? Eu tive muitas mudanças extremas de humor, como chorar e sentir raiva sem motivo, por causa da medicação. Também poderia ser algo que aconteceu mais cedo ou dias atrás e que ele está processando apenas agora.
Alguma vez você gritou aparentemente sem motivo? Por exemplo, você parecia feliz e relaxada, mas de repente começou a gritar? Minha filha faz isso às vezes e eu estou tentando descobrir o porquê.
Eu amo esta pergunta. Ela está fazendo uma filtragem dos sons e quebrando os ruídos e conversasque tem ouvido ao longo do dia. [O cérebro dos autistas funciona de maneira diferente e se sobrecarrega com estímulos externos, como sons, luzes, imagens e cheiros. Gritar, tapar os ouvidos, fazer ruídos ou movimentos repetitivos, segundo Carly, são uma forma de bloquear esses estímulos e se concentrar em apenas um]. Além dos gritos, você pode nos ver chorando ou rindo, tendo convulsões e até manifestando raiva. É a nossa reação ao, finalmente, entender as coisas que foram ditas e feitas no último minuto, dia ou até mês passado. Sua filha está bem.
Será que você poderia me dizer por que meu filho de quatro anos de idade (que tem autismo) grita no carro cada vez que paramos em um semáforo. Ele está bem e feliz enquanto o carro se move, mas, uma vez que paramos, ele grita e faz uma birra incontrolável.
Eu amo longas viagens de carro, elas são uma ótima forma de estímulo sem você precisar fazer nada. O movimento do carro e o cenário visual passando por ele permite que você bloqueie qualquer outra entrada sensorial e se concentre em apenas uma. Meu conselho é colocar uma cadeira de massagem no banco do carro. Assim, quando ele parar, seu filho ainda estará sentindo o movimento. Você pode também colocar um DVD mostrando um cenário em movimento.
De onde você tira tanta informação sobre a cultura pop?
Eu escuto tudo que está acontecendo ao meu redor. Se houver uma TV e eu estou em outro quarto, ainda posso ouvi-la. Se pessoas estão falando, eu gosto de ouvir o que estão dizendo, mesmo se não estão falando comigo. Não é porque eu não pareço estar prestando atenção que esse seja o caso.
Em seus sonhos você é autista?
Sim e não. Em alguns dos meus sonhos eu posso falar e fazer coisas que as crianças da minha idade fazem. Mas em outros eu ainda tenho dificuldade em fazer as coisas que posso fazer quando estou acordada. Eu sonho com um monte de coisas, como meninos e alimentos. Eu nem sempre me lembro dos meus sonhos, mas gosto deles.
Você pode descrever como se sente por dentro? Você acha que é diferente de crianças que não têm autismo?
O problema é que eu não sei o que as outras crianças sem autismo estão sentindo. Eu tenho lutas comigo todos os dias, desde que acordo até a hora de ir dormir. Não posso nem ir ao banheiro sem dizer a mim mesma para não pegar o sabonete e cheirá-lo ou sem lutar comigo mesma para não esvaziar todos os frascos de xampu.
 Existem coisas que você considera mais desafiadoras, como abotoar sua roupa ou cortar a comida com uma faca? Por que você acha que não pode fazer esse tipo de coisa? O que acha que poderíamos fazer para ajudar?
Algumas coisas eu acho que posso fazer, mas é preciso muita concentração para isso. Ficar sentada e digitar é algo muito avassalador para mim – eu preciso fazer pausas e dizer a mim mesma para fazê-lo. Eu não acho que as pessoas realmente sabem como é difícil. Parece tão fácil para todo mundo, mas é como falar três línguas ao mesmo tempo.
Fonte: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/entenda-e-experimente-como-funciona-a-mente-de-um-autista-com-a-ajuda-de-uma-adolescente-que-sofre-dessa-condicao/

Lidar com comportamento agressivo

 photo ciclo_zps63395eeb.jpg

É importante entender este ciclo quando tentamos ajudar pessoas com autismo que sentem raiva extrema. À primeira vista, pode parecer que o furor ocorreu sem motivo, mas a reavaliação minuciosa do incidente provavelmente revela pistas. Depois de descobrir as possíveis causas, é mais fácl impedir prováveis provocações no futuro.
Como lidar com o comportamento agressivo
É possível reduzir a ansiedade e, assim, o aumento da excitação causado por fatores quando se tem consciência deles.
Podemos ajudar os autistas a encontrarem formas seguras de afastar-se de ambientes barulhentos e superestimulantes.
Podemos tentar manter as exigências sob controle.
Onde houver conflitos conhecidos, é possível fazermos concessões em vez de transformarmos a situação em campo de batalha.
Podemos aprender a ter consciência do impacto de mudanças súbitas.
 photo ciclo6_zpsda53416c.jpg
Uma das tarefas mais difíceis para professores e pais é compreender como o jovem com autismo pensa ou sente ao lembrar que seu entendimento social e emocional pode estar em um nível diferente daqueles jovens de mesma faixa etária.
 photo ciclo3_zps96f5d0d5.jpg
Várias crianças usam termômetros emocionais para compreender melhor suas emoções e elaborar planos para lidar com esses estados emotivos intensos. Este termômetro ajuda a própria pessoa a entender as suas emoções e contextos, além de desenvolver um entendimento mais apurado delas, em vez de apenas vê-las como algo que sentem ou não.
 photo controle5_zpscb6352cd.jpg
Outras dicas
- Usa histórias sociais para ajudar a criança a entender e enfrentar situações que lhe parecem difíceis
- Se a criança está irritada e não entendemos a situação, é preciso verificar se está relacionada ao ambiente: etiqueta de roupa, luzes ofuscantes, sons, cores, multidões, aromas
- Analisar se o comportamento está ligado à mudança ou transições. Tentar quadro de histórias escritas ou visuais
- Alertar a crianças antes de esperar que ela conclua as atividades preferidas (método 3, 2, 1, timer, despertador, etc)
- Horários visuais mostrando atividades (rotina)
- Quando crianças não querem seguir algum trajeto diferente, mostrar mapas da região, jogos de carrinhos, figuras em miniaturas que seguem outros caminhos.
- Ajudar no revezamento e perda usando jogos de frequência, por exemplo jogo da memória, jogos de juntar quatro figuras diferentes, etc,
Fonte: Livro Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger. Estratégias e Práticas para Pais e Profissionais – Chris Williams e Barry Wright

sábado, 26 de abril de 2014

Curiosidades sobre o autismo

✓Os genes GABA são envolvidos em ajudar as células nervosas a se comunicarem. Esses genes são alguns dos que estão sendo estudados.

✓Os pais podem notar que a criança, que antes parecia normal, em todos os sentidos, está agitado de maneira estranha, recusando contato visual, a apontar os brinquedos ou a fala.


✓As crianças com síndrome de Asperger têm alguns sintomas de autismo, mas possuem habilidades linguística apropriadas para a idade e um QI alto ou normal.


✓Aproximadamente 40% das crianças com autismo não falam. Outros de 25% começam a falar entre os 12 e 18 meses (um ano a um ano e meio), mas logo perdem a habilidade da fala.


✓O autismo é parte de um conjunto de condições chamado distúrbios do espectro do autismo (DEAs). Todas essas condições compartilham sintomas semelhantes.


✓Hoje, um a cada 150 crianças norte-americanas sofrem de autismo, de acordo com os CDC.


✓O autismo é uma doença que interfere na capacidade de uma criança de se comunicar e interagir socialmente.


✓O questionário de Avaliação do Autismo contém 40 perguntas e é aplicado em crianças de quatro anos ou mais para avaliar as habilidades sociais, e comunicativas.


✓A terapia comportamental, também chamada de intervenção comportamental, é o tratamento mais usado contra autismo.


✓Algumas pesquisas sugerem que as crianças autistas podem ter problemas ao digerir glúten, encontrado em semelhante de trigo, aveias, centeios e cevadas.


Fonte: http://universodoautismo.blogspot.com.br/2012/05/curiosidades_20.html

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse

Há certos dias nos quais a única coisa previsível é a imprevisibilidade. O único atributo consistente — a inconsistência. Em meio a tantas incertezas, concorda-se que o autismo é intrigante, mesmo para aqueles que passam suas vidas em torno dele. A criança que vive com autismo pode parecer “normal”, mas o seu comportamento pode ser perplexo e totalmente difícil.
O autismo já foi considerado uma “doença incurável”, mas essa idéia começa ser abalada frente aos conhecimentos e descobertas que surgem mesmo enquanto você lê este texto. Todos os dias, indivíduos com autismo tem nos mostrado que podem superar, compensar e remanejar muitas de suas características mais desafiadoras. Instruir aqueles próximos às nossas crianças com simples compreensões sobre os elementos básicos do autismo tem um enorme impacto no percurso delas para a produtividade e uma vida adulta independente.
Autismo é uma desordem extremamente complexa, mas para o propósito deste artigo podemos dissolver suas milhares de características em quatro áreas fundamentais: Dificuldades de processamento sensorial; atrasos e deficiências na fala/linguagem; ausência de habilidades sociais, e questões da criança como um todo/auto-estima. Ainda que estes quatro elementos possam ser comuns para muitas crianças, tenha em mente o fato de que o autismo é um espectro: não há duas (dez, ou vinte) crianças com autismo completamente iguais. Cada criança estará em um ponto diferente do espectro. E, tão importante quanto, todos os pais, professores e cuidadores estarão também em um ponto diferente do espectro. Criança ou adulto, cada um terá o seu conjunto único de necessidades.
Aqui estão dez coisas que qualquer criança com autismo gostaria que você soubesse:
1. Mais importante e antes de tudo, eu sou uma criança. Meu autismo é apenas um aspecto de toda minha personalidade. Ele não me define enquanto pessoa. Você é alguém com pensamentos, sentimentos e muitos talentos, ou alguém gordo (acima do peso), “míope” (usa óculos), ou “desastrado” (sem coordenação, não tão bom em esportes)? Estas podem ser características que eu percebo quando lhe vejo pela primeira vez, mas não necessariamente tudo que você é.
Sendo adulto, você tem certo controle sobre como define a si mesmo. Se você quiser ser conhecido por uma característica sua, você consegue fazê-la percebida. Em sendo criança, ainda estou me descobrindo. Nem eu ou você sabemos ainda do que sou capaz. Definir-me por uma de minhas características corre o perigo de se ter expectativas muito pequenas. E se eu perceber que você não acha que “sou capaz”, minha resposta natural será: “Para que tentar?”
2. Minhas percepções sensoriais estão desorganizadas.Integração sensorial pode ser um dos aspectos mais difíceis para se entender no autismo, mas é sem dúvida o mais crítico. Significa que todas as visões, sons, cheiros, gostos e toques do dia-a-dia, que talvez você sequer note, podem ser extremamente dolorosos para mim. O próprio ambiente no qual tenho que viver se mostra freqüentemente hostil. Eu posso aparentar estar ausente ou hostil com você, mas eu realmente estou apenas tentando me defender. Aqui está o porquê de uma “simples” ida ao mercado parecer um inferno para mim:
Minha audição pode ser hipersensível. Dúzias de pessoas falando ao mesmo tempo. O auto-falante anunciando as ofertas do dia. O sistema de som toca músicas de fundo. Maquinas fazem ruídos. Caixas registradores apitam e se abrem. O moedor de café se move com ruídos. Os açougueiros fatiam a carne, crianças em pranto, carrinhos rangem, a luz fluorescente fica zunindo! Meu cérebro não consegue filtrar todos estes estímulos e eu fico sobrecarregado.
Meu olfato também pode ser muito aguçado. Sinto o peixe no balcão que não está tão fresco, o homem próximo a nós não tomou banho hoje, o mercado oferece petiscos de salsicha, o bebe à nossa frente sujou a fralda, estão lavando picles com amônia no corredor 3…. não consigo organizar tudo isto! Tenho náuseas horríveis.
Porque sou visualmente orientado (veja mais sobre isto abaixo), este pode ser meu primeiro sentido a ser super estimulado. A luz fluorescente não apenas é clara demais, como chia e zune. O estabelecimento parece pulsar e machuca meus olhos. A luz oscilante bagunça e distorce tudo o que estou vendo – o lugar parece estar mudando constantemente. Há uma claridade na janela, muitas coisas dificultando meu foco (que eu consigo compensar com uma “visão exclusiva”, como um túnel), ventiladores de teto ligados, muitos corpos em constante movimento. Tudo isto afeta meu sistema vestibular e sentidos proprioceptivos, e agora eu nem consigo dizer onde meu corpo se encontra no espaço.
3. Por favor, lembre-se de distinguir “não quero” de “não consigo”. Receptividade, linguagem expressiva e vocabulário podem ser grandes desafios para mim. Não é que eu não escute as instruções, é que eu não consigo entender você. Quando me chama do outro lado do quarto, é isto que escuto: “$%$#%#, Billy. %$#%@#$%…”. Em vez disto, fale diretamente comigo com palavras simples: Por favor, guarde seu livro na prateleira, Billy. É hora de você lanchar”. Assim você me diz o que fazer e o que acontecerá em seguida. Fica bem mais fácil para eu cooperar.
4. Eu penso concretamenteIsto significa que eu interpreto tudo literalmente. É muito confuso quando você diz “Segura as pontas!” quando o que você quer dizer é “Espere até eu voltar”. Não diga que algo é “mamão com açúcar” quando não há nenhuma sobremesa à vista e o que você está realmente falando é “será fácil para você fazer”. Quando você diz “Jamie realmente queimou a pista”, eu imagino uma criança brincando com fósforos. Por favor, apenas diga “Jamie correu muito rápido”.
Gírias, trocadilhos, nuanças, duplo-sentidos, inferências, metáforas, alusões e sarcasmos não fazem sentido para mim.
5. Por favor, seja paciente com meu vocabulário limitado. É difícil dizer para você o que preciso quando eu não conheço as palavras para descrever meus sentimentos. Posso estar com fome, frustrado, amedrontado ou confuso, mas por enquanto estas palavras estão além da minha habilidade de expressão. Fique atento para minha linguagem corporal, isolamento, agitação e outros sinais de que algo está errado.
Ou, tem o lado oposto: Posso me expressar como um “pequeno professor” ou estrela de cinema, despejando palavras ou scripts incomuns para meu nível de desenvolvimento. Estas mensagens eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar meus déficits de linguagem, pois sei que esperam que eu responda quando falam comigo. Estes elementos podem vir dos livros, TV, fala de outras pessoas. É conhecido como “ecolalia”. Não necessariamente entendo o contexto ou os termos que estou usando, apenas sei que isto me tira de alguns incômodos por surgir com uma resposta.
6. Como linguagem é muito difícil para mim, eu me oriento muito pela visão. Por favor, mostre-me como fazer alguma coisa mais do que apenas falar comigo. E, por favor, também peço que esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições insistentes me ajudam a aprender.
Uma “agenda visual” é de grande ajuda ao longo do meu dia. Assim como a sua rotina, ela me salva do stress de precisar lembrar o que vem depois, ajudando-me a transitar mais suavemente entre as atividades, controlar meu tempo e atingir suas expectativas.
Eu não perco a necessidade de algo assim quando ficar mais velho, mas meu “nível de representação” pode mudar. Antes de poder ler, eu preciso de orientações visuais com fotografias ou desenhos simples. Na medida em que envelheço, uma combinação de imagens e palavras pode funcionar, e depois só as palavras.
7. Por favor, priorize e procure construir a partir do que eu posso fazer mais do que aquilo que não posso fazer. Como qualquer outro ser humano, eu não consigo aprender em um ambiente que constantemente me faz sentir que “eu não sou bom o bastante e preciso me corrigir”. Tentar qualquer coisa nova quando estou quase certo de que vou encontrar criticas, ainda que “construtivas”, se torna algo a ser evitado. Procure pelas minhas virtudes e você vai encontrá-las. Existe muito mais do que só um jeito “certo” para fazer a maioria das coisas.
8. Ajude-me nas interações sociais. Pode parecer que eu não queira brincar com as outras crianças no parquinho, mas algumas vezes o caso é que eu simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar numa brincadeira. Se você encorajar as outras crianças a me convidar para brincar de chutar bola, ou basquete, pode ser que eu fique muito feliz em estar incluído.
Eu participo melhor em atividades estruturadas com começo e fim claros. Eu não sei como “ler” expressões faciais, linguagem corporal ou emoções de outros, e seria muito bom ter auxilio para respostas sociais adequadas.  Por exemplo, se dou risada quando Emily cai no chão, não é porque achei isto engraçado, mas é que eu não sei a resposta apropriada. Ensine-me a perguntar “Você está bem?”.
9. Tente identificar o que inicia meus surtos. Surtos, ataques, explosões, ou seja lá como você queira chamar, são ainda mais horríveis para mim do que parecem a você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos se sobrecarregou. Se você conseguir descobrir o porquê de meus surtos acontecerem eles podem ser prevenidos. Faça anotações sobre as situações, horários, pessoas e atividades. Pode surgir um padrão.
Procure se lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Ele lhe mostra, quando minhas palavras não conseguem, como eu percebo algo que está acontecendo em meu ambiente.
Pais, mantenham isto em mente: Comportamentos que persistem podem ter uma causa médica associada. Alergia a comidas e sensibilidades, distúrbios do sono e problemas gastrointestinais podem ter profundos efeitos no comportamento.
10. Ama-me incondicionalmente. Elimine pensamentos como “Se ele ao menos…” e “Por que ela não consegue…”. Você não conseguiu corresponder a todas expectativas de seus pais e você não gostaria de ser a todo momento lembrado disto. Não escolhi ter autismo, mas isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda, minhas chances de sucesso e vida adulta independente são baixas. Com o seu apoio e orientação, as possibilidades são maiores do que imagina. Eu prometo a você, eu valho a pena.
E por ultimo, três palavras: Paciência, paciência e paciência. Procure enxergar meu autismo mais como uma habilidade diferente do que uma deficiência. Reveja o que você compreende como limitações e descubra as qualidades que o autismo me trouxe. É verdade que tenho dificuldade com contato visual e conversações, mas já percebeu que eu não minto, trapaceio, zombo de meus colegas ou julgo os outros? Também é verdade que provavelmente não serei o próximo Michael Jordan, mas com a minha atenção a detalhes finos e capacidade de foco intenso, posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh.
Eles podem ter tido autismo também.
As soluções para Alzheimer, o enigma da vida extraterrestres – quais tipos de conquistas futuras as crianças com autismo, como eu, possuem à frente?
Tudo no que posso me transformar não acontecerá sem você como minha base. Seja meu defensor, meu amigo e veremos o quão longe eu consigo caminhar.
Fonte: http://www.ellennotbohm.com/article-translations/dez-coisas-que-toda-crianca-com-autismo-gostaria-que-voce-soubesse/ 

Poesia: Eu, autista

Criaram para mim
Um mundo paralelo
Obscuro, ilusório
Um mundo que não quero


Olham-me, poucos
Acolhem-me, menos
Entendem-me em sopros
De palavras ao vento

O chão que piso
Também é teu
É do teu mundo esse escuro
Esse breu

Olho e percebo tudo ao redor
Deste mundo disforme
Inexato e abafador

Nem só de verbo
se comunica o ser
Não são só palavras
É o corpo a dizer


Nosso país não me cuida
Com devida atenção
Negligencia minha existência
Porém, tudo em vão


Sou alpinista
Escalando muros de preconceito
Sou o autista
Humano e possuo direitos


Um país carente de olhar
De informação
Habitamos esse mar
De diferenças e confusão

Sou tantos Pedros,
Júlias e Marias
Sou dois milhões
De aflições e alegrias


Existo e peço
Que olhem mais para mim
E meu endereço
É o mesmo mundo sim!


MAZU GONÇALVES

ARTERAPEUTA –Apae Várzea Paulista

O Autismo

O Autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos de desenvolvimento do cérebro, conhecido como “Transtornos do Espectro Autista” (TEA). O TEA são um conjunto de manifestações que afetam o funcionamento social, a capacidade de comunicação, implicam em um padrão restrito de comportamento e geralmente vem acompanhado de deficiência intelectual.
O TEA é constituído pelo Autismo, a síndrome de Asperger e pelo transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação.


Autismo é um transtorno global do desenvolvimento marcado por três características fundamentais:

  • Inabilidade para interagir socialmente: dificuldades com regras sociais, em compartilhar interesses, pouca empatia para compreender os sentimentos de outras pessoas.
  • Dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos: atraso no desenvolvimento da fala, dificuldades para iniciar e manter uma conversa, suas frases podem conter poucas palavras e pode haver dificuldade em compreender a fala de outras pessoas.
  • Padrão de comportamento restritivo e repetitivo: interesses específicos, brincadeiras sem criatividade, adesão a rotinas rígidas, presença de maneirismos motores (andar na ponta dos pés, balançar o corpo).



Como identificar?

Essas características, em geral, se manifestam nos primeiros anos de vida e a partir dos 2 anos já é possível perceber sinais mais visíveis, pois a criança começa a interagir de maneira diferenciada com seu ambiente social. Risos e choros inapropriados ou fora de contexto, pouco contato visual, dificuldade na linguagem e interação social prejudicada são alguns dos comportamentos que podem ser observados.
Obs: É importante dizer, que mesmo com as dificuldades apresentadas, as crianças com autismo são capazes de aprender. É possível desenvolver e aprimorar habilidades, assim como diminuir os comportamentos que causam prejuízos através de um programa de intervenção estruturado e desenvolvido especialmente para a necessidade de cada criança.


Fonte: http://www.grupoconduzir.com.br/autismo